
Mercedes Sosa - Uma Lenda
Nos Pasos Perdidos, coroas de flores luxuosas enfeitam o impressionante hall de mármore. Lustres imensos e enormes velas iluminam a penumbra do amplo salão, com o caixão aberto posicionado bem ao centro. A presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, acompanha a família de Sosa enquanto prestam condolências à cantora. A família, incluindo o filho de Mercedes, Fabián Matus, e os dois netos, Agustín e Araceli, mantém-se próxima, com os braços entrelaçados como em um meio abraço, enquanto Cristina acaricia a mão sem vida de Mercedes Sosa. Néstor Kirchner, ex-presidente e marido de Cristina, permanece ao seu lado, discreto e com um olhar atento.
A população também está presente. Respeitosamente, um crescente grupo de pessoas passa pelo caixão aberto onde ela jaz com seu vestido azul bordado. Os longos cabelos negros, que aos 74 anos não têm um único fio grisalho, emolduram a face serena com maçãs do rosto salientes. As mãos, cuidadosamente dobradas em seu ventre, envolvem um buquê de rosas brancas. O cantor Argentino Luna toca suas músicas enquanto fãs chorosos cantam em coro e se revezam para levar flores ao ataúde.

5 de outubro de 2009
OS FAMILIARES próximos de Fabián e Mercedes seguem o caixão de madeira marrom que é levado ao carro funerário estacionado do lado de fora do Congresso. Multidões de todas as idades se juntam na Avenida Rivadavia para assistir à partida de sua última viagem, do Congresso ao crematório. Estão todos unidos em um momento histórico para a Argentina, que ultrapassa diferenças políticas e sociais.
A procissão de carros funerários passa vagarosamente. Pelo caminho, muitas pessoas carregam cartazes com dizeres carinhosos sobre Mercedes. Um velho revolucionário, em seus sessenta anos, segura uma faixa que diz: "Obrigado pela sua vida e pela sua luta”. Várias pessoas são vistas aplaudindo e acenando à bandeira argentina com honroso entusiasmo. Os jovens cantam animadamente várias e várias vezes “Olé Olé Olé Olé, Negra Negra”, como se fosse a seleção voltando após vencer um campeonato de futebol. Em praticamente todas as esquinas, grupos de pessoas munidas com diferentes instrumentos começam a cantar. Uma linda melodia ecoa pelas ruas de Buenos Aires — música que por décadas trouxe esperança e conforto, desafiando a ditadura e apoiando a democracia.
É um dia de tristeza que toca profundamente a alma argentina. A heroína popular nacional, a mãe da nação, está morta. Mas o que ela proporcionou através da sua vida e sua música nunca morrerá. Continuará existindo para sempre.
A procissão deixa lentamente o Congresso. Os primeiros carros levam as flores. O último leva o caixão.

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